segunda-feira, 29 de julho de 2013

Santas e vadias

"Só o amor constrói". Era essa a mensagem escrita numa boutique que foi apedrejada. As pessoas deixaram vasos de flores também, quase um funeral. Segundo perfis da mídia social, o motivo da quebradeira seria pelo fato da dona da marca da boutique ter sido flagrada ao utilizar mão de obra escrava. A informação sobre o motivo passou despercebida, a destruição não. Os conservadores não precisam saber o motivo, segundo a lógica do sistema, a simples destruição desqualifica o ato e eles o desqualificam para eliminar a mensagem: não queremos empresários inescrupulosos! Não queremos trabalho escravo!

Essa mensagem precisa ser vencida, calada, para que logo depois, outra boutique seja flagrada fazendo exatamente a mesma coisa, conforme aconteceu recentemente. Vivemos, realmente, sob uma lógica doentia. Até o sentimento de solidariedade, hoje, vem em pílulas.

Por esse mesmo motivo a Mídia Mafiosa deu tanto destaque aos manifestantes que, durante a Marcha das Vadias, quebravam santas. A ofensa acontece de maneira inversa incessantemente, no entanto, a Grande Mídia e seus teleguiados não se compadecem. Eles desqualificam os que quebram as santas para eliminar sua mensagem: minhas santas (direitos) são quebradas pelos católicos e evangélicos há muito tempo.

De forma incessante a Igreja Católica e os evangélicos atacam os direitos das pessoas gays e trans, atacam o aborto e atacam tudo que não se enquadre em sua ética machista e tradicional, no entanto, ninguém se sente ofendido.

Impressionante como um padre twittar que a questão do estupro como justificativa para aborto tem que ser bem vista "senão a coisa vira uma lei pró-aborto" não é considerado ofensivo, mas quebrar figuras de gesso é. Usá-las em empalamentos simulados é ofensivo, a nudez era ofensiva, os atos eram ofensivos, tão ofensivos quanto os parlamentares evangélicos e católicos são em relação aos direitos daquelas pessoas.

Como essas mesmas pessoas podem achar normal padres e pastores atuarem de forma ativa para que mulheres devam se submeter a parir um filho fruto de um ato violento? Relativizar a dignidade e a dor alheias por convicção religiosa é muito mais ofensivo do que sexo simulado com figuras de gesso.

Com o que se ofendem os brasileiros? Com a quebra de objetos ou com instituições religiosas defenderem que mulheres sejam obrigadas a carregar durante nove meses fetos que clinicamente não possuem qualquer chance de vida além de alguns minutos?

Para um ateu, esperar por um milagre é ofensivo.

Não é ofensivo pregar que pessoas não devem doar seus órgãos? Não é ofensivo que convicções religiosas possam impedir que outros possam viver mais dignamente, mais plenamente?

Com o que nos ofendemos? Com o fato das mulheres até hoje, inexplicavelmente, ganharem menos que os homens fazendo a mesma coisa ou com as santas quebradas no chão?

Não nos ofendemos com a ignorância de quem acha que um short curto facilita um estupro, mas nos ofendemos com santas quebradas.

Como podemos nos sentir tão ofendidos com radicais seminus que quebram santas e podemos não nos ofender com instituições religiosas agirem politicamente para impor a todos os seus ideais particulares?

Os que se ofenderam com as santas quebradas, por favor, me respondam, que direitos dos religiosos aqueles manifestantes tresloucados impediram de ser exercido? Qual religioso deixou de rezar, deixou de adorar seu deus, deixou de repetir que homossexualismo é abominação, pelo fato das santas serem quebradas e sodomizadas?

Pois saibam os ofendidos que as instituições mantidas por esses mesmos religiosos lutam e agem incessantemente para que aqueles manifestantes não tenham seu lugar na sociedade, que não tenham o direito de casar, se amar e viver do jeito que querem, assim como eles escolheram viver: rezando e mandando em suas mulheres. E isso, para mim e para aquelas pessoas é ofensivo.

Os religiosos quebram santas há muito tempo, todo dia.

Incessantemente programas de rádio e de TV propagam um fundamentalismo religioso muito mais ofensivo em relação às mulheres, às pessoas gays e trans do que a mera quebra de imagens que, relembre-se, são encontradas no comércio facilmente. Tanto se fala no mundo racional, pois então, devemos nos perguntar, RACIONALMENTE, o que representam, mesmo, as santas quebradas?

*Texto excelente. Saiba mais sobre as motivações da bancada anti-aborto: http://biscatesocialclub.com.br/2013/07/aborto/

sábado, 27 de julho de 2013

Batman ou Coringa?

Foto do banco de imagens do STF


A Mídia conservadora e seus seguidores repetiam com entusiasmo as notícias sobre a furiosa liminar proferida contra a Emenda Constitucional 73, que pretendia criar novos Tribunais Regionais Federais. A Associação dos Juízes Federais do Brasil foi pintada como um órgão corporativista, quando, na verdade, defende algo mais do que mera briga de poder ou verba.

O Batman brasileiro segue em sua cruzada contra o banditismo estatal, o problema é que os resultados de sua luta, se colocarmos as coisas sob a perspectiva coletivista, estão mais para a agenda do Coringa. Nessas horas, acho sempre bom lembrar que já tivemos um herói, um vingador, um que caçava marajás e tudo acabou de maneira melancólica.

O texto da Emenda é simples: São criados, ainda, os seguintes Tribunais Regionais Federais: o da 6ª Região, com sede em Curitiba, Estado do Paraná, e jurisdição nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul; o da 7ª Região, com sede em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, e jurisdição no Estado de Minas Gerais; o da 8ª Região, com sede em Salvador, Estado da Bahia, e jurisdição nos Estados da Bahia e Sergipe; e o da 9ª Região, com sede em Manaus, Estado do Amazonas, e jurisdição nos Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.*

O Tribunal Regional da 6ª Região, com sede em Curitiba, ficaria responsável pelos recursos ajuizados nos Estados do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul. De acordo com o atual sistema, a responsabilidade dos recursos vindos do Estado do Paraná fica a cargo do Tribunal da 4ª Região, que cuida também do Rio Grande Sul e Santa Catarina. Já o Mato Grosso do Sul é de competência do Tribunal Federal da 3ª Região, que já cuida de São Paulo.

Notem que a estratégia é simples, provável que Rio Grande do Sul, com número maior de distribuição de recursos, acabe com um Tribunal para si, como São Paulo, enquanto um novo Tribunal cuidaria dos três Estados que, teoricamente, teriam um número menor de distribuições de recursos.

Vejam que o tipo de ação segue na criação do Tribunal da 7ª Região, que teria jurisdição apenas para Minas Gerais, enquanto que o da 8ª Região cuidaria da Bahia e do Sergipe. O sistema atual fixa a competência do Tribunal da 1ª Região para os Estados da Bahia, Acre, Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e, finalmente, Tocantis. O Estado do Sergipe, por sua vez, fica por conta do Tribunal Federal da 5ª Região, que já cuida de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas.

O novo Tribunal da 9ª Região, retiraria o Amazonas e mais três Estados do Tribunal da 1ª Região (que continuaria com um acúmulo de Estados nada desejável), enquanto o da 8ª Região tiraria o Sergipe do atual Tribunal da 5ª Região. Mais uma vez, há a diluição da demanda de recursos. Mas que absurdo, não? Que motivo teria a Grande Mídia para apoiar a melhoria dos serviços judiciais nesses Estados longínquos, habitados por uma gente mestiça que não aparece nas novelas e tampouco nos programas de T.V.? 

O gasto para a criação de tais Tribunais é óbvio, tanto que foi alardeado pelas gralhas da Mídia Mafiosa, agora, isso seria simples "gasto", ou investimento?

A pergunta é justa e possui total relação com as constantes questões sobre como agilizar os processos judiciais. O raciocínio é óbvio, a criação de novos Tribunais visa à diluição da demanda. Os recursos direcionados aos Tribunais vão ser processados mais rapidamente. Ao contrário da mensagem mentirosa da Mídia Marrom, o número maior de tribunais só ajudaria a abreviar o lapso temporal gasto com as demandas judiciais, pois cada Tribunal teria menos recursos para julgar.

Como a máxima conservadora diz: "não há almoço grátis". O investimento para isso é necessário.

Ao ser tão enérgico em relação à sustação destes "gastos", o Ministro, realmente, traz uma enorme "economia" para a União, mas priva de um serviço um pouco mais digno os habitantes de vários Estados da Federação, correspondendo ao discurso dos jornalões. Infelizmente, o oferecimento de serviços melhores, principalmente se isso incluir Estados longínquos da Federação, não está dentro da agenda da Mídia Mafiosa. Precisamos de estrutura para negócios, não para humanos. Falta reflexão ao Ministro. Ao que parece, ele esqueceu de sua infância, ele não se lembra mais do que é participar da camada excluída da população.

E eu disse "um pouco mais digno" porque a Emenda Constitucional apenas dirimiria os efeitos de uma cruel distorção no Brasil. A Justiça Federal e os Tribunais Regionais Federais possuem competência para uma série de matérias, merecendo destaque a matéria previdenciária, afeita à grande parte da população pertencente às camadas mais baixas da nossa pirâmide social. Assim, uma pessoa de modestas posses, que resida em uma região cujo Tribunal é compartilhado por mais de um Estado jamais terá condições, por exemplo, de bancar as despesas para que seu advogado possa acompanhar e até mesmo fazer a defesa oral de seu recurso em uma sala de sessões que fica em outro ente da Federação. Isso dificulta, ainda, a obtenção de uma série de medidas de urgência que sejam de competência do Tribunal, como, por exemplo, acompanhar de perto a obtenção de efeito suspensivo de um recurso que será processado e julgado em outro Estado.

Qualquer um que não seja isento de imposto de renda, hoje, pode ter negado o direito à Justiça Gratuita e à Defensoria Pública, e, convenhamos, a alíquota mínima do imposto de renda não indica os rendimentos de alguém que tenha condições de pagar locomoção e acomodação para que seu advogado vá defender seus direitos em outro Estado.

Mais uma vez, os direitos mais básicos da população são mercantilizados, só que, agora, o direito que está no balcão é o de acesso ao Poder Judiciário.

A decisão do Ministro faz eco ao discurso dos privatistas ensandecidos, que gritam de revolta a cada novo "gasto" público e depois ficam nervosinhos quando a filial de sua empresa no Amapá demora a ter um recurso seu julgado no Tribunal Regional Federal. "Nada nesse País funciona!"  Enquanto isso não enxergam que, mais uma vez, o Brasil faz uma distribuição seletiva de direitos básicos. Não comentam que as suas empresas terão gasto, mas pagarão as despesas de seus advogados, todas que forem necessárias para o bom exercício da atividade, enquanto o "Empreendedor Individual" da barraquinha de cachorro quente não terá capital para isso.

Não coincidentemente, o discurso é propagado sistematicamente pela Grande Mídia e seus arautos. Um exemplo disso foi a atualização do status de um dos apresentadores do programa de TV Manhattan Connection no Facebook que, outro dia, simplesmente denunciou a contratação de mais de 3.000 funcionários públicos. O intelectual midiático em momento algum comenta a forma, a função e o motivo das contratações. Apenas vomita o diálogo dos privatistas ensandecidos e é curtido por uma legião deles. Não podemos gastar com mais funcionários públicos! Pouco importa se o contingente de funcionários públicos está ligado diretamente às possibilidades de sucesso do Estado para atender às demandas da população.

Apresentadores de T.V. que recebem ordenados na monta de centenas de milhares de Reais, isso quando não se chega a mais, anunciam sorridentes a "economia" do Governo com gastos em salários "elevadíssimos" para os funcionários públicos que seriam adicionados para tripular esses novos Tribunais, omitindo que através da concessão de um serviço público, ganham sozinhos, mais do que vinte desses funcionários públicos e o pior é que, pelo tipo de "jornalismo" que praticam, servem unicamente aos seus patrões, enquanto os novos "estorvos" para a Administração Pública serviriam à coletividade.

Recentemente li notícias de que a liminar será revertida. Já imagino o discurso revoltado dos monopolistas midiáticos. Vão denunciar e as pessoas vão fazer coro à recusa de elevação dos "gastos" públicos.

O mesmo discurso conservador vem entranhado nas constantes investidas contra os recursos e seus prazos. É constante a ilusão do público geral de que, ao diminuir os recursos na Lei de procedimentos, estaremos abreviando o tempo de julgamento dos processos, quando, na verdade, só há abdicação de direitos, eis que, sem estrutura, o poder Judiciário jamais poderá melhorar sua resposta a uma demanda que cresce a cada ano. A população é levada a acreditar que obterá uma resposta mais rápida do Judiciário, quando, na verdade, não terá, porque a estrutura insuficiente é um fator muito mais determinante do que qualquer Lei processual que diminua prazos ou limite a variedade ou a modalidade de recursos. O povo, enquanto acha que estará diante de uma resposta mais rápida do Poder Judiciário, está a apoiar a rapina de seus próprios direitos, principalmente os da ampla defesa, contraditório e devido processo legal. A ditadura econômica avança...

Não se enganem com a falsa ligação entre a supressão de recursos e rapidez processual. Rapidez de julgamento se alcança com um número compatível de funcionários públicos à demanda judicial. O apoio à renúncia de direitos por parte do cidadão comum só beneficia aqueles que julgam seus recursos com a ajuda de lobistas, em questões que, na maioria das vezes, dizem respeito ao seu interesse privado.


terça-feira, 23 de julho de 2013

Armação ilimitada




Desde o começo das manifestações o show de armações é óbvio. O trapalhão continua estrelando um programa de tragicomédia com desfechos inimagináveis. A diferença é que as cenas agora são no Canal Mídia Ninja. Há umas imitações desse show em canais de TV, mas nada que valha a audiência.

Tudo no Estado do Rio de Janeiro é um show, um evento, um programa de T.V., puro comércio. Tal qual no show das UPP's, tal qual nos investimentos para a Copa, não há objetivo a longo prazo para o coletivo, não há nada que a população vá aproveitar, tudo tem um intuito mercantil e ali as coisas param. O que é dado à população é o cacete pesado do Estado, ora por balas de borracha, ora por coisa muito pior. Ora se mata pobres às claras para o prazer e entretenimento da Mídia conservadora e seus sádicos cultuadores, ora se expulsa pessoas indeterminadas da rua, ora se prende outras, tudo sem critério e com técnica que inclui invariavelmente a maldade.

Enquanto o Amarildo desaparece, as suas armações aparecem, cada vez mais.

O formidável arsenal e efetivo visto para o Papa comprova uma agenda que já era evidente durante as operações das UPP's, o Estado só usa sua capacidade plena quando há interesse comercial. Mais uma vez, a "mercantilização da vida coletiva", dos direitos mais básicos da população é evidente. Cumpre unicamente a agenda capitalista e marqueteira. Tudo é uma armação. Poderiam ter impedido que se chegasse ao Palácio Guanabara antes, não impediram para encurralar e aterrorizar as pessoas, para horrorizar os moradores.

Nessa crise, não poderia ser diferente. A saída não é honesta, as escolhas e os procedimentos são sempre os de um trapalhão.

A reunião mandrake com uma turminha de "líderes" foi digna de filme de espionagem estrelado pelo Didi Mocó.

No dia da ALERJ, como no Leblon, se omitiram propositalmente para, logo depois, justificar uma reação extrema e prisões aleatórias. As acusações de pessoas que não se conhecem por formação de quadrilha beiram o ridículo e o pior é que a máquina judicial vai ter despesa com isso, já está tendo.

Outra tática suja, a ação de infiltrados para incitar o tumulto, é antiga, entretanto, nada tão evidentemente comprovado como nos vídeos da última noite. A coisa é tão rocambolesca que no vídeo que dá a visão de cima da rua vemos os infiltrados correndo para o cordão de isolamento. O afago dos colegas e as trocas de camisas logo depois então, foram a cereja do bolo. 

E não poderia ser diferente! Não são os P.M.'s os idiotas, eles são militares e não atores. 

A cena do molotov é menos evidente, mas também me parece óbvia. Logo depois um garoto que foi filmado sem mochila é preso com uma mochila que continha mais de 20 molotov's. Tudo muito estranho, muito atrapalhado. Foi rápido para o pessoal da internet fazer um apanhado, reunir as informações, os vídeos, as cenas e expor a farsa. Isso foi muito rápido, na mesma noite se descobriu que foi tudo armado. Como um programa de T.V.. A Mídia Mafiosa diz que a culpa é dos anarquistas, que odeiam o capitalismo. Impressionante o cinismo, enquanto isso um policial pega fogo e quatro pessoas são feridas por munição letal. Cinismo e desumanidade. 
  
Agora, depois de quase um mês, nosso inteligente governo se ligou na web e no lugar de dialogar com o fenômeno digital, procurar fazer esclarecimentos e se comunicar com o eleitorado, fez acusações sem nexo à oposição e à OAB e perseguiu de forma absurda e inconstitucional a equipe da Mídia Ninja. Trapalhadas do início ao fim.

E agora, trapalhão? Ainda temos metade da Jornada Mundial da Juventude, o povo está na rua e o senhor me vem com aquele arremedo de AI-5? O Decreto 44.302/2013 é uma das coisas mais temerárias que já vi. O senhor quer fazer a trapalhada de submeter a cidade a uma ditadura por Decreto? E sabe o que é pior? Vai deixar outros poderes e outras autoridades em posição desconfortável, pois a mídia irresponsável se delicia com a sua trapalhada e vai flagelar quem quer que se meta, mesmo que obrigado a isso por dever de ofício. Eles querem show, eles querem mascarado levando tiro de fuzil e gente presa por vandalismo ou incitação. Eles querem células de perigosíssimos terroristas anarquistas desbaratadas em operações acompanhadas ao vivo. A mídia que te usou, não se importa se você cair, eles até preferem outro partido, o trapalhão é estepe.

Tudo armado, um circo midiático e o trapalhão no meio do picadeiro. Ele cai do helicóptero estatelado no chão, em uma cena muito engraçada, os donos do circo riem, os outros artistas riem. Tem um que até ajuda na cena, dá umas alfinetadas nele quando ele cai. Todos acham graça. Menos ele, o trapalhão, ele está deprimido. Esta deprimido porque já entendeu que suas trapalhadas acabaram em muita confusão e que os seus amigos vão jogá-lo às feras. No show de trapalhadas é assim, tem sempre um bobo que paga o pato. Troféu abacaxi pro trapalhão e sua armação ilimitada.  

domingo, 21 de julho de 2013

Pequenos milagres - Mídia Ninja


Imagem retirada do perfil do Facebook do Midia Ninja:
https://www.facebook.com/midiaNINJA?fref=ts
E-mail: midianinja@gmail.com 


Faz tempo que não me iludo com grandes multidões. Desde que os lemas coxinhas se tornaram voz corrente nas manifestações deixei de acreditar em números. Os pequenos milagres me deixam muito mais confiante. Por isso que aquele pequeno pessoal na frente do Copacabana Palace me deixou mais esperançoso do que a tal marcha de 1 milhão de pessoas na Rio Branco.

Os pequenos milagres na mídia digital também me fazem confiante, mesmo diante das dezenas de mensagens e notícias prontas que a maioria das pessoas envia e publica por e-mail ou pelo "face" e depois repete em rodas de amigos. Impressionante como a mesma pessoa que posta frases e gifs. que retratam absurdos conservadores que não resistem à mais elementar reflexão, agora, posta um vídeo do Mídia Ninja e grita:  - Absurdo!

No mar de afirmativas categóricas dos jornalões, a movimentação da mídia independente começa a fazer diferença. Esse exercício do "fazer pensar" no lugar do "fazer dizer" é inestimável A crueza das imagens falam por si. Tire suas conclusões. Em toda essa "baderna" de manifestações o discurso de democratização da mídia se torna cada vez maior, mesmo quando não é dito expressamente. A mídia digital alternativa é parte integrante do movimento, de sua rotina, acredito que dele seja inseparável. Felizmente, chegou para ficar. Um pequeno milagre.

Não preciso mencionar o enorme papel do Mídia Ninja para o conhecimento da verdade. Para que um número pequeno de pessoas soubesse de fato o que acontece nas ruas. Esse número é realmente pequeno, se compararmos aos da TV, mas já é grande o suficiente para fazer diferença. Se somarmos isso aos vários "repórteres" voluntários e de ocasião a mídia digital independente mostra o começo do fim para os monopolistas. O espaço é dividido, mesmo que eles não queiram. Você não monopoliza o espaço digital e isso cresce diariamente.

Me delicio com a cara de pânico que algumas gralhas da TV tentam esconder através de uma máscara de revolta. Certo que se perguntam quantas pessoas em casa estarão rindo daquilo, enquanto as imagens da mídia independente são reproduzidasa através da web, presente em qualquer lugar ou aparelho.

A entrevista com o Prefeito me parece um divisor de águas. A autoridade máxima do Executivo carioca reconhece a importância da audiência do Mídia Ninja. Não pude ver ao vivo, vi pelo youtube (o endereço está no final), mas antes de ver naveguei pelo perfil deles no facebook. Confesso que algumas críticas do povo não me preocuparam, faz tempo que aprendi que os comentários de internet são como cocô na calçada em um lindo sábado de sol. Você passa por eles, lamenta e logo esquece. O que realmente me deixou um pouco apreensivo foi a nota do próprio Mídia Ninja.

Depois que vi a entrevista, achei a autocrítica exagerada, sinceramente. Acho que eles deviam festejar, não só o passo dado, mas o desempenho também. Que estejam certos que o desempenho, para alguns telespectadores, ao menos para um, o chato que escreve aqui, foi muito bom, digno de comemoração. Digno de comemoração, também, é que a equipe medita sobre o que faz e pratica a autocrítica.  

Dudu tergiversou? Claro que sim! Ele faz isso em debate eleitoral, com gente mais experiente! Mas, em compensação, não resistiu a dar alfinetadas em seu companheiro de partido e foram mais de uma! Por mais óbvia que pareça a situação, acho que o pessoal do Mídia Ninja merece o crédito por ter posto o Prefeito nessa posição. Ele sabia que ia ser questionado sobre isso e aceitou a entrevista. Se topou é porque dá importância para a audiência. Preferiu o risco ao silêncio.

Eduardo Paes criticou a atuação policial e deixou claro não concordar com o choro cabralesco em direção à oposição, por mais que a justificativa para essa discordância me tenha soado meio cínica. Novo golaço do Mídia Ninja.

A questão dos BRT's, não só forneceu esclarecimentos interessantes, principalmente sobre a falta de veracidade nas informações propagadas pela Prefeitura, mas também expôs o que todos parecem concordar. O Rio de Janeiro precisa de um plano adequado para o transporte, um plano de longo prazo, que elimine o uso exagerado dos ônibus, que mantenha os carros das pessoas nas garagens e, se até o prefeito concorda com isso, já que ele mesmo disse que "adoraria colocar metrô em tudo", está aí um importante motivo de cobrança. A população deveria cobrar não só do Eduardo Paes, mas de todo e qualquer prefeito do Rio de Janeiro. Isso deveria ser objeto de um movimento constante e máxima vigília.  

Um outro pequeno milagre do Mídia Ninja foi que eles apertaram o Prefeito o suficiente para que ele falasse sobre parte da elite tupiniquim, os donos das carruagens. Lógico que ninguém acredita no "não sei de nada" dele, mas, novamente, o interesse privado, mesquinho e corrupto que gera todo o problema de mobilidade nas nossas cidades foi exposto. 

Achei importantes as várias outras perguntas que o Prefeito conseguiu não responder. Não respondeu de forma suficiente as questões das remoções e da elitização de certos espaços da cidade. Na verdade, ele conseguiu se esquivar bem da questão sobre a elitização do Maracanã, jogou a bola para os cartolas. Contudo, a ênfase nessas questões mostrou uma mensagem importante. O Mídia Ninja mostrou a que veio, mostrou que vai ficar do lado dos que foram enxotados por seus choques de ordem, pela sua Guarda Municipal, tão grotesca e truculenta quanto a polícia do Cabral, em incontáveis ocasiões. Essa mensagem foi um aviso: - Estaremos lá do outro lado, mostraremos como as coisas realmente acontecem. Outro pequeno milagre. Parabéns ao Mídia Ninja!

*entrevista Mídia Ninja com Eduardo Paes: http://www.youtube.com/watch?v=ansb4drmgQU

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Black Block no Leblon




Vou ser cabotino, mas minha cabotinagem tem uma circunstância atenuante: destaco que não fui o único. Fomos muitos a apontar o assanhamento dos sentimentos mais reacionários da nossa comunidade desde o início das manifestações. Uma das tentativas mais gritantes disso foi a forma como a Mídia Corporativa retratou o ataque dos manifestantes radicais à ALERJ, mês passado. O destaque incessante do vandalismo era aliado de uma estranha omissão da P.M., os objetivos eram claros, aumentar a repressão.

O mesmo golpe teve início na última quarta, na manifestação do Leblon. Depois de serem denunciados pela mídia independente, pela sinceridade das redes sociais, eles precisavam de algo mais, por isso esse novo golpe foi mais ousado, falou-se em arma letal. Continuarmos nesse caminho, teremos um novo espetáculo midiático de "bandidos", que agora são chamados de "vândalos" correndo sob uma chuva de balas. Tal qual no episódio da UPP, os conservadores vão torcer e rir sadicamente, enquanto a Grande Mídia, protegida pelas armas, vai poder filmar de perto, da rua, de onde foi expulsa pelos manifestantes inúmeras vezes.

Não acredito que isso vá acontecer, a sandice das autoridades cariocas não chegaria a esse ponto, entretanto, para quem quer realmente mudança, essa nova investida pode ser uma má notícia. A baixaria da Mídia expulsa da rua vai aumentar.

A Mídia Mafiosa, agora, tem muito o que falar: eles já podem destacar que o bairro boutique do Rio de Janeiro foi destruído por vândalos e as madames cansadas já começam com mesmo discurso patético do abaixo assinado de outrora: que vão reclamar no Palácio Guanabara, que saiam do Leblon.

Nauseante a forma como a elite conservadora, informada e letrada, imediatamente correspondeu ao discurso espetaculoso, se levantou e rapidamente ficou ao lado da Grande Mídia no ativismo contra os vândalos que tiveram a audácia de enfeiar o Leblon. Eles não querem mais lembrar das mortes do final de junho na Maré, nem da atuação psicótica nas ruas de Laranjeiras, nem do garoto desaparecido da Rocinha, eles querem que os vândalos sejam presos ou fiquem fora do Leblon.

Os manifestantes conservadores não querem que os vândalos quebrem bancos, querem continuar gritando fora Cabral e fingem esquecer que é justamente o que os bancos representam o motivo real pelo qual eles estão na rua. Os manifestantes civilizados não precisam dessa profundidade, atacar o governo lhes satisfaz. Os bancos não são parte do problema, os corruptos são o problema!

Os vândalos, irracionais que quebram bancos, são tão irracionais que conseguem ser um dos poucos a ver a quem os corruptos obedecem. São os bárbaros os poucos a ver que se não apontarmos os capitalistas inescrupulosos, não mudaremos coisa alguma.

Os manifestantes conservadores, agora, ajudam o Estado que lhes atirava bombas e bala de borracha, com seus dedos apontados para o Black Block, até serem duramente surrados em uma atuação policial sem omissão proposital, isso se voltarem pra rua.

Fotógrafo: https://www.facebook.com/claudinei.souza.771
http://www.claudineisouza.blogspot.com.br/


segunda-feira, 15 de julho de 2013

O vândalo é o novo preto #BlackBlock & #Anonymous

Fotógrafo: https://www.facebook.com/danielcastelobranc0


O vândalo é o novo preto. Essa frase, verdadeira e simples, foi cunhada por uma amiga de colégio, quando a discussão sobre a minoria de "vândalos" dentre os "manifestantes pacíficos" ganhava forma. Óbvio que "vândalo" é mais um termo estigmatizante, como todos os outros já utilizados pelos conservadores e sua Mídia. "Vândalo", hoje, "traficante" ontem, "bandido" anteontem e "preto" há um pouco mais de tempo. Excluído, marginalizado, abandonado, incompreendido e explorado hoje, ontem, anteontem e há muito tempo. São todos "pretos", são todos "vândalos"!

A prova disso foi o tremendo esforço da Mídia Mafiosa em destacar os "manifestantes pacíficos" e criminalizar a minoria de "vândalos" e "baderneiros". Até aí, tudo dentro da normalidade, afinal, a Grande Mídia nunca procurou esclarecer coisa alguma.

Contudo, merece atenção a falta de compreensão sobre os chamados "vândalos" por boa parte da militância e intelectuais de esquerda. Miguel do Rosário, do Cafezinho, por exemplo, cujo trabalho e coragem admiro profundamente, foi um dos que denunciou, com justificada revolta, a ação dos mascarados fascistas que carregavam coquetéis molotov para incendiar os carros de som e agrediam os militantes da CUT que, assim como a garotada apartidária (ou anti-partidária, infelizmente), têm todo o direito e legitimidade para se manifestar.

O mesmo digo sobre outros pensadores da esquerda que não tardaram a denunciar o viés de extrema direita de um dos Anonymous do youtube. Segundo as denúncias, este canal seria administrado pela juventude do PSDB que, de carona neste singular momento, ansiava pelo golpismo. Acredito neles. Acredito no Miguel do Cafezinho, que relatou o que viu, mas acredito, também, que ainda falta compreensão por parte de todos sobre os variados "grupos".

Nesse ponto, me parece que a juventude anacrônica do PSDB largou na frente. Dotados de maior sensibilidade sobre o que seria apreciado ou não pela garotada, rapidamente trataram de dar uma forma extremamente apetitosa às suas propostas direitosas. Arrumaram uma fantasia, um ar de mistério, uma aparente revolta anarquista e pronto, lá estavam eles sendo repetidos e divulgados em uma tendência golpista e fascista que deixou a todos de cabelo em pé. Felizmente há muita gente democrática atenta, inclusive outros Anonymous.

Em primeiro lugar, importantíssimo que se observe o equívoco de se apontar um Anonymous ou o Black Block como grupos ou organizações. Ambas entidades possuem caráter extremamente plural, variado e sem liderança formal, o que impossibilita uma agenda fixa. Não são grupos, são ideais, comportamentos e forma de expressão. Não procure por líderes, não procure por sedes, não procure por bandeiras, observe as mensagens.

Em segundo lugar, acredito que ainda há muito que observar pelo que minhas opiniões podem ser revistas, apenas procuro, com esse texto, trazer um pouco mais de reflexão para essa questão.

Black Block: anarquistas que servem como "segurança" dos manifestantes. Não são exatamente um grupo e sim uma ideia. Seu viés anarquista os torna extremante avessos a qualquer tipo de liderança formal e os próprios administradores de sua página carioca no Facebook deixam isso bem claro:

 - Black Block não é exclusividade nossa. Junte seus amigos, forme seu grupo.

 Diante de tal sentença, como atribuir a eles e somente eles, a ação criminosa descrita no Cafezinho? Foram os integrantes do Black Block que o fizeram? Pode ser que sim, pode ser que não. A leitura e o acompanhamento dos Perfis do Black Block no Facebook me faz acreditar que não, entretanto, se a cada vizinhança podemos ter uma célula Black Block que contará com um sistema horizontal de organização, fica impossível apontar se os agressores eram efetivamente adeptos do Black Block ou apenas pessoas vestidas de preto.

A ideia geral divulgada pelo Facebook, cujos autores fazem questão de dizer que não são regras ou ditames, me traz a genuína crença de que a maioria esmagadora daqueles que aderem à ideia do Black Block não estaria preocupada em procurar os militantes da CUT para o combate. Não podemos esquecer que outras manifestações foram organizadas para o mesmo dia, principalmente pela garotada apartidária que ansiava em se distinguir dos sindicalistas "contaminados" pelo sistema político que procuram depor. Escaldados pela repressão policial psicótica de antes, acho difícil que aqueles que realmente se identifiquem com o ideal Black Block queiram abrir mão da linha de frente das manifestações apartidárias para caçar os manifestantes petistas. Fora isso, caso as agressões descritas pelo Cafezinho fossem de fato perpetradas pelo Black Block, acho que isso seria assumido em um dos perfis na rede, o que não vi acontecer. Se eles possuem a coragem de assumir seu combate direto às forças policiais e a depredação do patrimônio público e representativo dos grandes conglomerados capitalistas por que não assumiriam a pancadaria contra a CUT? Eles não estão preocupados com a opinião e tampouco com a aprovação alheias e por isso não acredito que esconderiam qualquer ato praticado, na verdade se orgulhariam disso.

Acho bem provável que o viés anarquista e violento do Black Block, sim, é violento e depredador no que se refere à propriedade estatal e aos símbolos do capitalismo, o torne o grande catalizador de toda sorte de desconfiança quando a coisa acaba na pancadaria, mas tenho certeza que se não fosse pela ação deles um número esmagadoramente maior de pessoas teria sido vítima da truculência homicida da Polícia Militar. Foram esses "pretos" que mitigaram a ação desumana e covarde dos vândalos.

A solidariedade para com o pequeno empresário (que, segundo diretrizes gerais divulgadas na internet, também é vítima do sistema), com o oprimido e  a luta contra o monopólio de riquezas não me parece combinar com a ânsia em agredir organizações de trabalhadores, mesmo que partidários de um governo que representa a manutenção da opressão capitalista.

Fora isso, meu breve contato cibernético com o perfil do Facebook me trouxe gratas surpresas: um discurso coerente, inclusive em relação ao uso de software e literatura. Um enaltecimento ao estudo e ao debate fundamentado e o destaque constante de que seus inimigos são o capitalismo e o Estado opressor. Esse raciocínio os leva, até mesmo, a considerar a corporação policial como inimiga apenas nos momentos de repressão. Concorde-se ou não com a posição, tais destaques não se assemelham ao ódio classista. A procura da briga e a perseguição aos membros da CUT me remetem, conforme bem observou o blogueiro do Cafezinho, a um fascismo de extrema direita que, repito, não possui qualquer relação com a ideia Black Block.

Por fim, não podemos esquecer a ação dos "infiltrados". Um fenômeno que embora eu não tenha conseguido observar de forma satisfatória, sei que existe e é responsável por vários desfechos violentos das manifestações. Na que ocorreu em frente ao Palácio Guanabara presenciei o flagrante de um deles e foi só, mas sei, por troca de informações, que isso ocorreu rotineiramente.

O mesmo se diz sobre o(s) Anonymous. A cópia direta do filme de cinema, baseado em uma Graphic Novel extremamente subversiva, não deixa dúvidas que os Anonymous são, também, uma ideia. Os Anonymous são todos nós e ao mesmo tempo nenhum de nós. Tanto é assim que acompanho um Anonymous no Facebook (Anonymous Rio), este específico (logicamente) ao Rio de Janeiro, que traz relevantes mensagens de cunho social. A defesa da aldeia maracanã e de outras lutas dos indígenas, a galhofa com casamento da Dona Baratinha, as denúncias constantes e insistentes sobre a violência policial desmedida, o ataque à elite do transporte, os pedidos de não agressão aos partidos políticos (apesar do apartidarismo declarado) não me parecem, por exemplo, ter sintonia com o caráter fascista do canal de youtube acertadamente criticado pela esquerda.

Uma busca mais detalhada sobre os variados Anonymous na web só confirma isso. Temos Anonymous Brasil, Anonymous BR e vários outros perfis, cada qual com sua agenda, cada qual com suas propostas e mensagens, a maioria com destaque às causas sociais e ao combate ao pensamento conservador que tomou de assalto a nossa sociedade. Isso tudo me leva a crer que a grande maioria dos Anonymous da web não possui qualquer identidade com o mascarado fascista dos vídeos muito bem produzidos e editados do youtube.

Outra evidência disso foi justamente o esforço destes variados Anonymous para desacreditar aquele canal direitóide de vídeo.

Assim, entendo que a mera taxação de fascista aos Anonymous ou ao Black Block é um risco à ridicularização, à ironia, o que, aliás, já ocorre. Não ache que eles estão alheios ao achincalhamento e a tentativa de criminalização da Mídia Mafiosa ou às denúncias da esquerda, principalmente da esquerda governista. Eles se informam, pesquisam e ironizam tudo isso.

A sociedade, principalmente a parcela que acredita no debate, deve, imediatamente, observar esse comportamento com atenção e trazer os portadores das mensagens para o seio da discussão. Ignorá-los, ou, pior, desqualificá-los só vai trazer mais força ao conservadorismo, que quer "manifestantes pacíficos" que enviem seus protestos para as redes de TV e que propagam covardemente a endemonização generalista à toda a classe política. Os Anonymous e o Black Block são uma pedra no sapato deles.

Boa parte da esquerda que hoje está no Poder já foi chamada de criminosa, baderneira, vândala e terrorista, na verdade ainda o é e é com desgosto que a vejo cometer o mesmo erro dos ultra conservadores e, pior, ajudá-los.

Esse ideal, esse comportamento (veja que evito falar em grupos) é caótico e informal e não poderia deixar de ser pois é oriundo do fazer pensar da geração Y, que traz em seu caráter a deliciosa bagunça da internet. Generalizá-lo e, pior, atribuí-lo determinada tendência política de forma direta e açodada é incompreendê-lo e precisamos fazer o caminho inverso pois em pouco tempo serão os Anonymous e os Black Block quem estarão no protagonismo da política do País. Quem você acha que governará o Brasil quando, nós, os coroas, estivermos em outra dimensão? Você prefere um desses Anonymous ou um dos descendentes do clã Barata?

domingo, 14 de julho de 2013

#OCasamentodaDonaBaratinha Vamos além!

Recentemente vi na minha timeline uma foto de uma manifestante interpelando uma linda noiva no momento em que ela entrava na igreja. Uma outra foto mostrava uma outra manifestante vestida de branco com um cartaz que  mandava a mesma linda noiva ir de ônibus para o local da festa. Fui ao link do Mídia Ninja para ver como estava a coisa na entrada da cerimônia. A festa seria em um elegante hotel da Atlântica.

Chocante ver uma fila de policiais e um corredor de seguranças de terno que servia de escudo para os convidados constrangidos, que eram recebidos com gritos de ordem. Chocante também, foi ver os olhares de triunfo de algumas madames quando chegavam no alto da escadaria da igreja, arvoradas na segurança policial e privada. Olhavam com desprezo para a plebe. Os cães ladram, mas a caravana não pára.

Logo depois, durante o festim, a nobreza tupiniquim, aviltada com o barulho, de dentro da segurança do hotel atirava notas de R$ 20,00 e R$ 100,00 para os comuns. Ironia ou generosidade? Não vi ninguém fazer isso enquanto entrava, enquanto compartilhava o espaço com a plebe. Achei que covardes fossem os plebeus, que fogem acuados dos arautos da ordem e depois voltam para gritar: - Olha eu aqui de novo! Olha eu aqui de novo!.

O banquete continua. Os gritos continuam. Um dos integrantes da nobreza, protegido por seus homens de armadura e pelas paredes de sua fortaleza, no clímax de sua indignação com aquela gente ingrata atira um cinzeiro contra a massa. Achei que a nobreza fosse civilizada. Achei que os "vândalos" estivessem apenas naquela minoria denunciada pela Grande Mídia.

O resultado é óbvio. Um dos manifestantes sofreu um corte profundo na testa e a massa revoltada partiu para a pedrada e foi, novamente, violentamente reprimida pela máquina psicótica do Estado. Que Autoridade seria tão importante, tão poderosa, que teria uma fila de PM's cuidando para que o melhor dia da vida da noiva seja realmente o melhor? Que autoridade usa a PM para conter a reação contra um ato covarde, ignóbil e inconsequente de um amigo ou parente seu, PM esta que, ao mesmo tempo, se omite diante do flagrante delito praticado de dentro das muralhas? Quem melhor para prender um irresponsável ou ébrio que atira um cinzeiro da varanda do hotel, senão a PM? Em vez disso, a Corporação se curva à autoridade dona da festa, em um óbvio comportamento de exceção, exceção baseada em sangue azul. Se você ainda não sabe quem é essa autoridade, a noiva é filha de um dos maiores empresários de ônibus do Rio de Janeiro.

A mensagem dos manifestantes é grosseira, rude, deselegante e inoportuna, como qualquer cidadão amante da moral e dos bons costumes diria, mas ela é boa:

- Sabemos quem vocês são! A culpa também é de vocês!

A mensagem é das mais importantes, mas também era da mais esquecidas. Vi uns poucos avisos sobre isso, sempre em textos muito longos para os cultuadores do espetáculo. Espero que os fabricantes das várias imagens gritantes e simplistas incluam também este absurdo. Se há alguma vantagem nesse ativismo espetaculóide do Facebook, com certeza seria a inclusão desse grupo seleto nas fotos impactantes, com frases prontas que refletem uma sabedoria "unânime". Já passou da hora dessa realeza ser lembrada.

Realeza invisível e muito poderosa, tão poderosa que duas autoridades máximas do Executivo do Rio de Janeiro foram ao pelourinho de bom grado, sem apontá-la. Tão poderosa que a P.M. protege o casamento de seus parentes e protege também seus convidados criminosos, que atiram cinzeiros pela janela. Tão poderosa e tão alheia a tudo isso que, com tanta turbulência nas ruas, tem a coragem de esfregar um casamento faraônico na cara do povo. Isso não é maldade. É apenas a arrogância de quem realmente não se preocupa com o que está acontecendo, para eles nada mudou, nem mudará, a não ser, claro, a fila do check in.

Tanto é assim que nosso Prefeito, em suas justificativas após o cachação público que levou, falou em cortar custos, impostos, mas não falou em cortar o lucro deles, não falou sequer em examinar a questão. O prefeito de São Paulo, ao menos, teve a coragem de falar no assunto. O Dudu? O mesmo que contou com generosas doações deles em campanha, apanhou por eles. Se expôs por eles, fez pronunciamentos por eles e não falou em cortar os lucros deles. Eles são tão poderosos que a autoridade máxima do Executivo da Capital do Estado do Rio de Janeiro se atirou a frente deles, recebendo, como um mártir, todo o flagelo público. Se essa fidelidade toda fosse com a coletividade os cariocas estariam nos Jardins do Éden. Até o mais valente dos jagunços, após muito flagelo, pode vazar o nome de seu coronel. Nosso Prefeito não. Nosso prefeito é tão valente que leva um tapa público, dá a outra face, mas não os entrega. Só espero que a C.P.I. do ônibus possa nos iluminar nesse assunto.

Se o momento é de ativismo e transparência, precisamos verificar o quanto os donos do mercado do transporte embolsam. Precisamos reavaliar todos os contratos de concessão, a começar pelo caso deles, obviamente o mais urgente. Já que a pontaria do grito se calibrou, precisamos ir para a rua sempre. Exigir investimento em infraestrutura, continuar exigindo um serviço justo e acabar de vez com a mercantilização dos direitos mais básicos do cidadão, como se locomover.

Se o momento é de ativismo, transparência e democracia, que um dos nobres que estava na festa tenha a decência de vir a público denunciar o criminoso que atirou o cinzeiro. Os políticos não são os únicos que precisam mudar seu comportamento.

Vamos além! Vamos da porta do Copacabana Palace para frente da sede de cada uma dessas empreiteiras que se banquetearam com os elefantes brancos da Copa. Vamos apontar para cada uma delas, que fatiam convenientemente as obras públicas do País em um cartel colonial. Vamos às portas do bancos, vampiros que praticam sua sangria no povo trabalhador desde que o salário deixou de ser pago em sal. Vamos apontar para as poucas famílias que controlam os principais canais de mídia do País e perguntar se eles acham que o povo continua idiota. Vamos parar de dar tapinha nas costas de lobistas e tratar com cordialidade herdeiros de impérios falidos que, apesar de deixar todos os seus ex-empregados no calote, continuam jogando polo, andando de carro esporte e desfilando com bonecas quase infláveis, verdadeiros troféus de um mundo machista, ganancioso e retrógrado.

Corrupção é crime. O Código Penal é bem direto e claro ao tipificar as suas duas modalidades, a ativa e a passiva. Importantíssima essa nova mensagem e que ela seja gritante, convicta, a nossa corrupção, obviamente, não é só da classe política. Impeachments, golpes, eleições e reeleições não foram suficientes para evitá-la. Dizer que um governo é mais corrupto do que outro é ridículo, pois os Barões são os mesmos há muito tempo, o sistema é o mesmo há muito tempo e os interesses e prioridades são os mesmos há muito tempo. Há muito tempo que temos um Estado que serve apenas à nobreza tupiniquim e caso os gritos de ordem continuem a se focar nela, confio em mudança.

Ao longo de todo este tempo de protestos as pessoas se esqueceram de que a corrupção, como crime, depende do elemento que corrompe, é assim na Lei, é assim na vida. Não há político corrupto sem um interesse pessoal, privado e particular que o torne assim.

Nunca me senti tão confiante no efeito positivo das manifestações. Muito mais do que com aquelas centenas de milhares de pessoas, ou alguns milhões, como outros dizem. Batemos à vontade no Executivo. Apontamos os corruptos.

Agora vamos apontar os que corrompem. Vamos denunciar além da corrupção como crime, a corrupção como distorção. A corrupção que permite que um indivíduo ganhe quarenta vezes mais do que outro que trabalha na mesma corporação, às vezes no mesmo andar, com a mesma formação profissional. A corrupção que permite o pagamento de salários aviltantes por "circunstâncias de mercado", enquanto os donos desse mesmo mercado reservam aos seus o melhores salários. A corrupção que permite que interesses privados, que servem apenas para bancar festins cafonas, sejam definitivamente ultrapassados pelo civismo e pelo coletivismo. Vamos acuá-los, vamos abrir suas caixas pretas e vamos ver quem ganha com o mercado da agonia humana que nossa cidades se transformaram.

Os ares de mudança são tão fortes que até mesmo aquela organização famosa, a que foi expulsa da rua, aquela cuja sede em São Paulo foi enfeitada com 200 kg de estrume suíno, propagou em seu canal de TV a cabo uma reportagem sobre os abusos psicóticos da polícia na quinta-feira negra e sobre a atitude criminosa do nobre arremessador de cinzeiros.

Não sei se isso faz parte de uma nova tática da Rede Matrix ou se é sintoma de uma mudança gradual de comportamento. Noto que a Rede Olho, esses dias, tem sido mais sincera com seu público mais informado, tanto que se curvou a relatar algumas verdades em seu braço cibernético e em seu canal de TV paga. Realmente, começo a sentir o cheiro de novos tempos, só espero que não fique só na marola.


sexta-feira, 12 de julho de 2013

A quinta-feira negra

A quem possa interessar:

Sou morador da Pinheiro Machado, quase em frente ao Palácio Guanabara. Tendo em vista toda a movimentação nas redes sociais em prol de protestos para o dia 11 resolvi ficar em casa (vantagens de ser autônomo). Isso veio bem a calhar, já que, hoje, não somos só profissionais executores, precisamos nos preocupar com todas "facilidades" do mundo moderno. Qualquer lobo solitário mequetrefe como eu precisa saber de T.I e de software.

Por volta das 18:30 h. comecei a ouvir os gritos de ordem dos manifestantes e imediatamente me veio a lembrança da última manifestação. Liguei para a minha mulher, que viria a pé do trabalho e passaria bem no olho do furacão.

Conseguimos nos falar, desci e fui ao encontro dela, passei pela manifestação e o cenário era o mesmo da outra vez. Não vi vândalos, não vi terroristas, vi eleitores, vi cidadãos exercendo um dos mais elementares direitos constitucionais. Encontrei com a minha morena e fomos juntos para casa.

O barulho aumentava, assim como nossa curiosidade e de repente o mesmo espetáculo triste da outra vez. Truculência, violência desmedida, bombas de efeito moral e de gás não eram utilizadas para dispersão (o que já seria absurdo) e sim para intimidação. As pessoas corriam, já dispersas, enquanto bombas eram atiradas às suas costas. Evidente que o objetivo dos psicóticos fardados não era apenas sufocar o grito dos insatisfeitos, mas amedrontar os moradores e manifestantes. Covardes. Psicóticos e covardes.

Em pouco tempo pude ver a garotada correndo com bombas em seu encalço. Em alguns minutos o cheiro fétido de pólvora e o gás tomaram conta da rua e do vão central do meu prédio. Mais uma vez pude sentir o fedor da repressão fascista dentro da minha casa.

Nas redes sociais e nos links ao vivo da Midia Ninja vi que a coisa era pior. Não bastasse aquele espetáculo de ilegalidade em frente ao Palácio, observado por este reclamão angustiado, os fardados psicóticos agora atiravam a esmo em sua tática suja de apavorar a população. Atiravam balas de borracha pelas costas das pessoas, o que denota, não só a insensibilidade de quem foi treinado para agredir, mas também a imoralidade de quem foi treinado para se sentir acima da sociedade que deveria proteger.

Estamos diante não só de uma repressão imoral. Seria cômico se não fosse trágico! Em 11.07.2013 foi imposto aos cidadãos cariocas, moradores dos bairros de Laranjeiras, Flamengo, Largo do Machado, Catete e Glória o toque de recolher.
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Na praça São Salvador, conhecido point do chopinho e do chorinho o comércio foi fechado na base da bomba.

A cobertura da imprensa foi a mesma de sempre. Ao que parece os manifestantes são vítimas apenas quando vão ao Leblon, na casa do Cabral. Aqui em Laranjeiras, assim como na Lapa, a polícia apenas revidava o injusto ataque dos "baderneiros", "que são uma minoria dentre os manifestantes pacíficos". Aqui não teve abaixo assinado para tirar ninguém, de lugar nenhum. O povo aqui não está preocupado apenas com a tranquilidade da sua rua, mas também com a tranquilidade de todos. O povo aqui não faz abaixo assinado, VAI PRA RUA!

Em seu parasitismo pendular, um grande jornal, braço cibernético de uma organização que foi expulsa das ruas pela população e agora só pode fazer cobertura panorâmica através de seus caríssimos helicópteros, resolveu aderir à verdade e começou a denunciar os abusos. A tática é óbvia, eles promovem o discurso propício ao público que desejam cooptar. O discurso mentiroso e simplista aos Hommers Simpsons que os assistem pela telinha e o discurso da "verdade" ao público cibernético, que já deixou bem claro que tem acesso a outros meios de notícia e não se ilude com essa agenda perniciosa.

É nessas horas que sinto orgulho de morar aqui. Sinto sim, orgulho, podem me chamar de garoto zona zul. De burguês hipócrita ou de comunista de boutique. Orgulho de morar no único bairro nobre do Rio de Janeiro em que a oposição a essa gangue PMDBista venceu (verifiquem os resultados, por bairro, das últimas eleições majoritárias). Destaco aqui a participação da Bianca, querida amiga que "vale por uma passeata". Somos o bairro dos sujinhos, dos hipsters e dos comunas, mas ao menos não somos o bairro desse discurso fétido de extrema direita que se traveste de moderado. Somos do único bairro nobre do Rio de Janeiro que teve coragem de gritar NÃO! 

Somos do bairro em que o sapatênis branco e as camisas pólo com cavalinhos (que agora chegam ao cúmulo de medir um palmo) não são itens de vestuário obrigatórios. Somos do bairro onde ainda se pode tomar cervejinha em lata na praça sem ser confundido com mendigo ou crackeiro. Me chamem de romântico. De apreciador da pobreza (estereótipo costumeiro dos analfabetos políticos), só não me chamem de conformista. 

Nós, de Laranjeiras, fizemos a nossa parte. E você da nobreza opositora? Fez a sua? Vai pra rua ou vai fazer outro abaixo assinado?

Que os capitalistas fisiológicos pensem melhor nas próximas eleições. Que deixem seu preconceito e seu conformismo de lado e votem em quem não se compromete com o esmagador poderio econômico que massacra nossa casa. Que se oponham a esse conservadorismo radical que visa à mercantilização da vida coletiva a todo custo (salve, salve o articulista Adalberto Moreira Cardoso, o qual não conheço pessoalmente, mas adoro a palavra e, apenas por isso, prezo como se fosse um amigo). Não tenham medo da ameaça vermelha, porque dessa, seu ídolos estadunidenses se ocupam em vigiar. Temam a ameaça mercantil despudorada, pois as consequências disso já se voltam até mesmo contra quem tem riqueza suficiente para não se preocupar com favelados.

Será que teremos que chegar ao ponto de assistirmos a roubos e latrocínios em massa para que se vislumbre o verdadeiro caos social que essa mercantilização cínica está a produzir? Quantas vezes os ricos, dentro de seus carros de luxo, terão se que ser incomodados pelos "comunas" baderneiros para se tocarem que estão a produzir um sistema que não se sustenta?

Aos amigos petistas, cuja ideologia me traz mais afinidades do que a galera do capital, peço que pensem direito e avaliem se a coalizão política é um fim ou um meio. Se, de fato, é vantajoso colocarmos na cadeira mais alta do Executivo aliados do governo que não são aliados do povo. Aliados do governo que são financiados pela mercantilização opressora que relega o povo ao que seria absurdo em qualquer lugar minimamente civilizado. Não se acostumem com o absurdo, pois isso está corroendo nossa sociedade.

Dilma, se quiser o apoio do carioca reveja suas alianças. Não me venha, novamente, como fez seu antecessor, subir no palanque de Crivellas da vida e deixar no ostracismo guerreiros de longa data como o Vladimir Palmeira.

Pessoalmente sempre me opus ao radicalismo dos que gritam impeachment, detesto fazer eco a uma oposição incompetente, preguiçosa e oligarca, que se senta confortavelmente em seus divãs acolchoados enquanto forças midiáticas repugnantes fazem seu trabalho de forma suja e antidemocrática. Pois agora faço eco a eles, infelizmente. Impeachment do Cabral já. Essa figura vampiresca já provou carecer de todos os requisitos minimamente necessários para ser o chefe do Executivo Fluminense.

Seus crimes estão evidenciados. Desde o uso espúrio da máquina estatal até as aviltantes ordens de impor o toque de recolher a quem se opõe aos seus ditames. Fora Cabral e leve a Delta com você!

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3xJ9TRRGDh0

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=wU5F71VdFK4

quarta-feira, 10 de julho de 2013

A democracia do discurso pronto

A falta de tempo me impediu de manter uma "produção" constante nessa lousa de reclamações. Enquanto não termino algo mais elaborado reproduzo atualização do meu status no Facebook reforçando um  recado que é dos mais importantes:


E impera o discurso simplista na elite letrada. Agora, qualquer um que tenha um mínimo de personalidade para avaliar o que acha bom ou ruim na atual conjuntura é petista ou quadrilheiro. O discurso obrigatório é o de "está tudo uma merda", mas essas mesmas pessoas não têm estômago para uma revolução de verdade, com invasão, destruição, enforcamentos e prisão. Querem uma revolução moderada, sem vândalos, sem comunas, sem petralhas. Querem uma revolução democrática de um único discurso, mesmo que ninguém saiba exatamente qual  seja. Qualquer um que se sinta representado, por quem quer que seja, é petista ou quadrilheiro, mesmo que sempre tenha sido oposição ao Governo (o problema não é a oposição e sim as suas modalidades, pelo jeito). O egoísmo centrista impede até mesmo a mais breve percepção do que é representação política. Os mesmos que atacam os Petralhas votam em candidatos que são supostamente de oposição, mas que se aliam ao Governo sem titubear, quando lhes interessa. Alguém observou o painel de votação da tão propalada PEC da Impunidade? Alguém viu que congressistas, de que partidos, votaram a favor?

Lógico que não, pois a elite letrada só se submete a informações sectárias e seletivas. Os mesmos que votam nos candidatos à favor da PEC gritam pelo fim da corrupção petista, pelo fim da impunidade e pelo fim da ameaça vermelha no Brasil. O discurso me traz arrepios, um frio na espinha que sinto quando vejo manifestações que representam ideias mofadas, anacrônicas, camufladas por um discurso moderninho, globalizado. Enquanto isso a insatisfação popular também é globalizada. A penúria e a opressão também são globalizadas.

O individualismo exacerbado de uma nação consumista e despolitizada não permite o pensamento coletivo, que virou sinônimo de regimes arcaicos, instrumentalizados por comedores de criancinhas. Justiça social sim, mas não com o nosso rico dinheirinho.

Questionar os valores consumistas atuais virou coisa de radical, enquanto ostentar uma posição de neo-liberalismo extremo é coisa de moderado. Defender qualquer forma de estatização é coisa de radical, enquanto defender a privatização ampla, irrestrita e sem critérios é coisa de moderado. A aplicação de princípios do mercado de capitais diretamente, sem qualquer estudo de viabilidade, a realidades completamente distintas é coisa de moderado. O radicalismo virou sinônimo de pleitos esquerdistas, enquanto ser um capitalista extremado é coisa de moderado, afinal, os moderados não gostam de esquerda nem de direita, o neo-liberalismo plutocrático não é da direita, é da verdade inexpugnável de que o comunismo morreu e que devemos nos submeter a um sistema que não se autorregula, não se critica, não se moderniza e não se reforma. Não produz circulação de riqueza, apenas a sua concentração, em um discurso hipócrita que esconde suas próprias mazelas. Esconde sua própria ineficiência em fazer valer sua mensagem mais básica.

O individualismo sim, é um valor salutar. Coletivismo é coisa de "comuna". Essa gente ainda os procura embaixo de suas camas e dentro de seus armários. Promovem a caça aos vermelhos criminosos, facínoras que têm a audácia de questionar um sistema absoluto, dono da verdade. Os mesmos que clamam a morte do comunismo se apressam em denunciar seus espiões e exumar medos da guerra fria (e são os "comunistas" os retrógrados). Como sempre, o ataque, muitas vezes enaltecendo extremo preconceito, sem qualquer argumentação lógica ou política, se sobrepõe a qualquer avaliação útil. Temos todos que ser "contra tudo o que está ai", temos todos que nos sentir "não representados", sob a pena de sermos tratados como traidores do "movimento popular". Os que nunca dormiram, agora são um incômodo aos verdadeiros "reformadores". Precisamos de uma reforma sem que se revise a influência dos interesses privados em nossa política, afinal, os interesses privados são o pilar da nossa sociedade, justa e solidária.

Reforma? Faz-me rir...na falta de tempo para elaborar novas postagens no meu bloguinho, passo meu recado. Acordem, de verdade, aprofundar o debate de forma útil nunca foi tão necessário.