quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As faces de Paes


Foto da ESPN: veja a entrevista

Conforme disse aqui anteriormente, poderíamos estar diante de mais uma atuação brilhante no grande show de trapalhadas que tem se tornado o Rio de Janeiro desde junho. Eduardo Paes, nosso prefeitinho vaselina está com tudo para levar o Óscar.

Isso vem de nascença, mas, confesso que nunca o vi ostentar essa "qualidade" de forma tão constante e habilidosa. 

Desde que deu sua entrevista para a Mídia Ninja (já comentei aqui no blog) que ele se desvia dos dardos, que caem sempre em seus aliados. A brutalidade policial, por exemplo, é evidentemente culpa do Governo Estadual, ele não deixou de alfinetar o Cabral, lembremos. O que ele obviamente não comenta é que a Guarda Municipal dele não é diferente. Tem o mesmo comportamento autoritário, ilegal. Qualquer um que já tenha frequentado o centro do Rio sabe disso. Não raro os Guardas quebram as barracas dos ambulantes, somem com as suas mercadorias, tratam com brutalidade não só os flagrados, mas qualquer um que fale alguma coisa. 

Na entrevista que deu para a ESPN, intitulada de "Olimpíada no Brasil é uma vergonha", mais uma vez, Paes mostra a sua face engajada. Finge se indignar. No entanto, esconde que apoiou a candidatura do Rio, foi um dos atores mais importantes dela. Mudou de opinião? Claro que não! Está é querendo mudar de barco.

Com medo de um possível desgaste do Governo Federal, já que boa parte da opinião pública, assim como ele, só agora é contra os eventos mundiais, ele finge não concordar, mas vejam que bela foto:

Foto da Wikipedia
Vejam que momento fraterno, todos pelas Olimpíadas. Não bastasse esta linda memória fotográfica, Eduardo Paes, em 02 de março de 2012, deu uma entrevista para a BBC Brasil defendendo com unhas e dentes o evento.

Comportamento camaleônico: quando defende a candidatura às Olimpíadas, esse mesmo evento que hoje diz ser uma vergonha, Paes menciona investimento e melhorias em transporte. Agora, pouco mais de uma ano depois, seu partido ajuda a enterrar a CPI do ônibus. Diz à Mídia Ninja que acredita em transparência, mas seus aliados blindaram de vez as investigações e provavelmente teremos uma amarga pizza para o povo carioca. No fim, pode ficar o mesmo oligopólio ganhando milhões com a mercantilização do direito de mobilidade.

Antes disso, em 2009, Eduardo Paes comemora efusivamente nossa "vitória" (flagrante do Estadão: aqui ). Gostaria que ele esclarecesse se acha a foto uma vergonha também.

Eu não estranho esse comportamento. Infelizmente, o eleitorado, principalmente o carioca, que elegeu Paes com esmagadora vantagem, tem memória curta, mas há tempos que acompanho nosso Prefeito. Lembro que na época da cobertura incessante da Globo sobre o mensalão, Eduardo Paes era um dos mais atuantes parlamentares do PSDB. Agressivo, enérgico. Um tempinho depois, quando pulou para o PMDB, em sua quarta ou quinta andança partidária, finalmente encontrou seu ninho. Nessa época do "não me representa" ou "me representa" eu digo que Eduardo Paes representa o PMDB, esquivo, malandro e principalmente, sem posição fixa sobre nada que não seja SER da situação.

Na entrevista que deu para o Globo ( aqui ), Eduardo Paes mostra sua face culta, modernosa. Fala em gastar milhões com um filme do Woody Allen, afinal, o Rio, mesmo com os Black Blocks na rua, não pode deixar de ser um espetáculo.

Como todo bom ator, ele tem uma face terrível, aquela que ele mostra para os seus professores, pessimamente pagos, horrivelmente assistidos e em justíssimo estado de greve. A face mesquinha, cínica e autoritária. A mesma face que mostra aos camelôs. Usa a própria afirmativa de que os paga muito bem (para os miseráveis padrões do Brasil) para se recusar a dialogar e ameaçá-los com cortes de ponto e demissões. Isso conforme a entrevista que deu para O Dia

Só espero que o eleitor lembre disso. Lembre das várias faces de Paes, típico representante do PMDB, o partido do discurso cínico, que distorce a nossa democracia e mercantiliza nosso direito de representação, pois usa o apoio da maioria para defender unicamente os interesses de uma minoria. Que todos lembremos disso e, democraticamente, consigamos, mesmo que demore, reduzir o poder absurdo desse partido de várias faces e um único interesse, o privado.

Top 10 Filmes por Woody Allen: Pela Revista Bula

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Midialivrismo é maior do que Fora do Eixo


Foto de O Tijolaço


No início do mês, devido a contatos pelo Facebook e pela atividade profissional que desempenho tive a chance de assistir a um debate promovido pela Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro. Era aberto e sem necessidade de maiores formalidades, contudo, era esperado que o público se mantivesse restrito aos profissionais da área.

O evento, formado quase que exclusivamente por uma platéia de magistrados, foi organizado pelo Presidente da Associação, o Desembargador Cláudio Dell Orto, de mente brilhante, dedicação profissional ímpar e de uma simpatia contagiante. Junto a ele, na mesa, estavam Adriano Pilatti (que gentilmente convidou uma série de pessoas, inclusive a mim, pela web), reconhecido acadêmico da PUC-RJ e diretor do departamento de Direito da Universidade, que, não bastasse o conhecimento formal sobre muitos dos assuntos tratados no debate, recheou sua participação com colocações pessoais lúcidas e esclarecedoras, Ricardo Brajterman, membro de três comissões especiais da OAB e representante ativo do valente plantão de advogados da Ordem e o "Carioca", da Mídia Ninja.

A platéia, apesar de não muito numerosa (coubemos todos em uma sala) contava com um contingente oriundo dos mais variados Entes Federativos. Salutar que membros do Poder Judiciário tenham se interessado em ouvir algumas palavras daqueles que, direta ou indiretamente, tiveram mais contato com a revolta do vinagre. Evidente que precisamos de membros do Judiciário, não só técnicos, mas também informados e dispostos a fazer uma ponderação profunda sobre os últimos acontecimentos. O evento foi "televisionado" por veículos da mídia digital alternativa, o que aumentou a platéia para mais de 1.000 pessoas, pequeno milagre cibernético.

Passados os esclarecimentos de fato de quem efetivamente viveu a revolta que, como sempre, diferem do "testemunho" da Mídia Conservadora, destaco o meu primeiro contato com a estrutura interna do Fora do Eixo, entidade responsável pela Mídia Ninja, o que foi incrementado com a entrevista de Capilé e Torturra no Roda Viva.

Não muito tempo depois surgiram os relatos na internet sobre aqueles que viviam fora do eixo. Conforme, principalmente algumas cineastas, o caráter horizontal do Fora do Eixo não é como propagado, com destaque a outras divergências em relação à filosofia, o modo de viver e de remuneração nas casas coletivas de produção.

Não vejo tais críticas como má notícia. Na verdade acho ótimo, porque quebra um caráter inocente do movimento. Todos temos que convir que a horizontalidade atinge seus limites quando surgem a liderança e o carisma humanos, isso, para mim, é um processo inevitável em qualquer aglomeração que resista a algumas horas de reunião. Isso demonstra que o Fora do Eixo não é o único representante do midialivrismo (pego a expressão emprestada do Carioca) e que, conforme bem destacado por Capilé, há uma intensa movimentação criativa e profissional há quase uma década sendo ignorada sistematicamente pela Grande Mídia e pelo mercado.

Um outro bom sinal é a assunção de uma parcialidade honesta e declarada, coisa nunca feita antes pela Grande Mídia. Ao expor que a realidade é construída por multiparcialidades diversas, Capilé denunciou o discurso historicamente cínico da Grande Mídia ao se arvorar na condição de observadora e noticiadora imparcial da atualidade. Ao expor que a Mídia Ninja não se resume à opiniões, mas sim à narrativas que podem ser avaliadas no ato pelo telespectador, os representantes do midialivrismo profetizam sobre a falência dos órgãos tradicionais do jornalismo que, convenhamos, já não o praticam de forma verdadeira há muito tempo.

Certos momentos senti verdadeira vergonha alheia da jornalista da Folha que, por mais que tentasse praticar sua manipulação categórica, acabou por ser facilmente rechaçada pelos dois entrevistados.

Um outro ponto positivo do discurso expresso pelos integrantes da Mídia Ninja e do Fora do Eixo que é confirmado com o surgimento dos dissidentes é a falta de controle. Algo incompreensível para a velha ganância capitalista. Notável que a mais surpreendente afirmativa de Torturra e Capilé no Roda Viva se referiam a isso e ao objetivo de que, no futuro, a Mídia Ninja se torne desnecessária. Isso foi suficiente para virar a mente dos tradicionalistas. Some isso a um modo de viver, trabalhar e ser remunerado efetivamente diferente do usual e o inegável fomento cultural ocasionado pelo trabalho não é surpresa a campanha persecutória desferida pelos Jornalões.

Incompreensível para aqueles que não conseguem pensar um milímetro fora do pensamento cartesiano corporativo que os "pioneiros" de uma iniciativa não busquem sua exclusividade ou, ao menos, receber rendimentos através de seu uso.

Como exemplo da perseguição institucional da Grande Mídia, cito uma das gralhas da Globo News que, pasmem, possui uma coluna muito lida no Globo e afirma que o Fora do Eixo é formado por amigos do PT. Ora, a afirmativa é tão ridícula que não resiste ao mero exame da entrevista. Conforme bem destacou Capilé, o Fora do Eixo não dialoga apenas com o PT, mas com uma série de partidos da esquerda. Indagado sobre eventual relação com o PSDB a resposta foi óbvia: indubitável que a direita no Brasil restringe seu diálogo ao empresariado e que não há sequer um partido de tal orientação que entre em contato com movimentos sociais.

Assim, notável a forma perniciosa da Mídia Vampira ao tentar culpar o Fora do Eixo por um fato que se deve única e exclusivamente aos seus lacaios na política.

Contudo, a pobre gralha míope não é a única. Noto uma antecipação quase institucional por parte das colunas de opinião da mídia corpotativa da verdadeira caça às bruxas que pretendem perpetrar. O comportamento vai desde ataques mentirosos até uma depreciação do trabalho alcançado pelo midialivrismo.

Os lacaios do braço político da Mídia Mafiosa, agora, querem investigar o Fora do Eixo e a verba pública que lhe foi destinada para fomento cultural. Nada mais atabalhoado. Conforme demonstra a entrevista, qualquer auditoria será feita com uma facilidade incrível, eis que um único banco é responsável pela mediação do interesse de todos os coletivos no que tange à verba. Não serão encontradas contas em paraísos fiscais, carros de luxo ou parentes que se valem do status de fantasmas na Administração Pública. Na realidade, pelo reduzido volume da verba mencionada (menos de R$ 1 milhão), mesmo que quisesse o Capilé não conseguiria enviá-lo secretamente ao exterior.

Na verdade, o mais impressionante nisso tudo é como os garotos conseguiriam fomentar a realização de mais de trezentos eventos culturais apenas com essa quantia. Ora, quando se exclui mordomias, salários astronômicos e estruturas luxuosas e infladas (à semelhança de algumas estruturas públicas que os mesmos tecnocratas criticam) a conta bate. Apenas isso.

Outro ponto importante é que Capilé afirma categoricamente que do faturamento do Fora Do Eixo, menos de 10% viriam de verba pública, conseguida por meio de editais de concorrência e não através de contratos de publicidade obscuros e imorais. Pois bem, interessa o conhecimento de que garotos "sonhadores" e com viés socialista sejam muito mais produtivos do que os lacaios do capitalismo? Pois, com toda a informação que chegou até a mim, incluídas, logicamente, as fontes de fora do domínio maléfico de nossas organizações midiáticas, essa conclusão é inafastável.

O midialivrismo e não apenas o Fora do Eixo derrubam uma das mais antigas retóricas da direita: de que movimentos sociais ligados à ideologia da esquerda não possam ser produtivos ou sustentáveis. Pois são! E é justamente por sua tendência à estrutura meramente necessária que conseguem fazer isso.

Na minha opinião, os ataques da Mídia Vampira ao Fora do Eixo são fruto de desespero. Desespero porque a garotada conseguiu manter uma estrutura minimamente sustentável com muito menos verba do que os jornalões. Nossos jornalistas tiveram uma verdadeira aula sobre os parâmetros que devem nortear o exercício de veículos virtuais.

Fora isso, o desespero vem pelo resgate do verdadeiro trabalho jornalístico, o oposto a esse denuncismo imoral da Grande Mídia. Desespero diante da percepção de que a nova geração não mais se vale desse mesmo denuncismo para formar sua opinião. Desespero por notar que há novas formas de se produzir e trabalhar diferentes daquelas ditadas pelo mercado e, por fim, desespero porque o Fora do Eixo é apenas a pontinha do iceberg do midialivrismo. É apenas uma faceta de um movimento orgânico, sólido, oriundo de uma nova forma de pensar que vai modificar definitivamente a forma de comunicação jornalística. O midialivrismo ainda tem muito a nos mostrar. Temos uma enorme legião de jovens criativos, produtivos e que não dão a mínima para o que pensam os tecnocratas.

A Mídia Vampira e seus lacaios que se cuidem, pois, caso consigam, de fato, estigmatizar o Fora do Eixo, terão que lidar com vários outros coletivos e profissionais, todos de fora do eixo (corporativista e cínico dos Barões da comunicação).

Capilé e Torturra no Roda Viva: aqui
Tijolaço denuncia a perseguição midiática: aqui
O Blog Cafezinho traz esclarecimentos sobre o financiamento coletivo: aqui
Sobre a vida fora do eixo e a dissidência do midialivrismo: aqui
A verdade nua e crua em ótimos flagrantes no Jornal Zona de Conflito

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Diálogo?

A palavra "democracia" te leva a que pensamento? A pergunta é simples, mas a resposta é complexa. Um filósofo ou cientista social poderia escrever muito mais do que todas as postagens deste blog para responder. A pergunta daria uma palestra de horas, um livro inteiro, mais que isso. Mas, há uma noção partilhada entre todos os minimamente educados e informados. Essa noção pode variar, mas a palavra "democracia" não é algo estranho para vários de nós.

Com base na ideia geral de democracia eu peço ao leitor que dê uma resposta direta e lacônica a essa pergunta.

Eu diria que democracia me leva a pensar em diálogo.

Essa resposta, apesar de altamente figurativa se aplica a vários sentidos, imagens ou costumes que extraio do meu entendimento sobre o que é democracia. Se tivesse que explicar a minha resposta direta, rapidamente, diria que a democracia garante o diálogo entre direitos (como uns se retraem em detrimento de outros), entre interesses (como são observados e garantidos sem anular os interesses legítimos de outros, na medida do possível e do legal), entre forças (como grupos influentes seriam capazes de conseguir o que querem sem oprimir os outros, sejam indivíduos, grupos rivais ou entidades mais fracas). As coisas se aperfeiçoam assim, dessa forma o povo se governará cada vez melhor. Dialogando nos entendemos, evitamos que os excessos de uns se sobreponham às fraquezas de outros, decidimos juntos o que queremos, decidimos quem vai nos governar e representar na condução e fixação das nossas regras e vamos construindo a noção do que é certo ou errado. Assim criaremos nossas convergências e divergências. Nossas maiorias e minorias, que se oporão sem se oprimir. Instituiremos as leis que vão nos limitar. Mas, veja, essa é a minha resposta para a pergunta, baseada no fato de que todos temos ou deveríamos ter uma noção ou opinião sobre a democracia.

Eu acho que cada brasileiro deveria pensar nessa resposta. Coçar os cantos mais miúdos da memória em busca de toda informação que já recebeu sobre democracia e tentar definir em uma e depois em mais algumas linhas qual a sua noção de democracia.

Eu não me considero uma pessoa lá muito normal. A minha resposta não seria a da maioria. Eu diria que a maioria das pessoas que conheço responderia algo parecido com: - Maioria. Democracia, basicamente, seria o regime em que os governantes e congressistas são eleitos pelo povo, pela maioria.

Resposta mais exata do que a minha, mas, se você concorda com a minha resposta, sem discordar da resposta da maioria e se concorda com a minha explicação, seria certo dizer que um governante eleito pelo povo, não pode deixar de dialogar em todos os níveis que puder com seus governados.

Então, poderíamos dizer que um governante não pode se utilizar do fato de ter sido eleito democraticamente para desrespeitar direitos dos seus governados, justamente o que faz o nosso Estado, inclusive desde que as manifestações começaram, talvez o ápice disso tudo tenha sido o arremedo de ditadura que Cabral tentou emplacar.

Cabral, após toda a trapalhada, agora, finge querer dialogar. Não me aprofundarei novamente no show de trapalhadas, que poderá contar com mais uma brilhante atuação, agora que a CPI do ônibus está explodindo no discurso dos manifestantes e nosso escorregadio prefeito terá que lidar com com um OcupaPaes.

Prefiro destacar o diálogo cínico do PMDB no Rio, que, como era de se esperar, foi reproduzido na Câmara dos Vereadores no trato com a CPI do ônibus. Os aliados do trapalhão não fariam nada diferente. O resultado extraído até agora pelos representantes eleitos democraticamente pelo povo carioca foi um diálogo dos mais cínicos. 

Nossos gloriosos representantes, após a concordância com a instauração da CPI, votaram democraticamente para colocá-la aos cuidados de pessoas que - provavelmente - poderiam ser mencionadas na investigações.

Sim! Tudo feito democraticamente! Nossos representantes, todos eleitos democraticamente, após a relutância em sequer constituir quorum suficiente para a instauração da CPI, uniram esforços para, democraticamente, colocar a CPI aos cuidados dos aliados do governo municipal: o maior suspeito pelo favorecimento dado às baratas. (Conforme a própria Câmara dos Vereadores)

Dos cincos membros anunciados para a CPI, três são do PMDB, de Paes, responsável indireto pelas licitações do transporte público no Rio e que sequer assinaram o requerimento para sua instauração, um do PTC e outro do PSOL, o vereador que assinou o requerimento para sua instauração. 

Os manifestantes, os mesmos que gritaram pela instauração da CPI, contrariados, partiram para o OcupaCâmara, algo visto como extremo e antidemocrático, pois a pauta exigia ações enérgicas e não previstas em nossa democracia. O presidente da Câmara dos Vereadores, eleito democraticamente por seus pares, resolveu dialogar com os manifestantes.

Após receber a pauta, emitiu NOTA à imprensa esclarecendo que não poderia atendê-la, pois isso seria uma ilegalidade, algo antidemocrático, contrário a regimentos e leis constituídos de forma democrática.

Ao que parece, a CPI do ônibus, instaurada por quem a queria, vai ser presidida por quem não a queria e dos membros anunciados pela própria Câmara, só há um que, de fato, a queria, o vereador que realizou o requerimento de instauração. 

Pois bem, preciso aderir à minha proposta e repensar a minha resposta à pergunta do início do texto. Minha resposta não inclui o diálogo cínico da nossa democracia, aquele que dialoga com o governado antes da eleição e após, apenas com o empresariado.

Se nossa democracia constituiu um poder que só dialoga com uma minoria que sobrepõe seus interesses aos direitos mais básicos da maioria, a explicação que dei para a palavra diálogo, quando pensada para a resposta é completamente inadequada. Provável que a minha noção de democracia seja também inadequada.

Se a maioria os elegeu e se a vontade representada pela reunião dos que foram eleitos pela maioria representa apenas o interesse de uma minoria, eu diria que não há diálogo em nossa democracia. 

Minha resposta e minha rápida explicação não se aplicam ao que ocorre em nossa democracia e, se não se aplicam justamente ao lugar onde vivo, digo que elas são inadequadas. Vou fazer como todo brasileiro deveria, pensar na minha resposta, pois a nossa democracia não inclui qualquer diálogo, seja do poder constituído com o povo ou aquele necessário para que forças e interesses não se sobreponham a direitos básicos majoritários e digo que não há diálogo, porque, na minha resposta, me utilizei desse termo da forma mais ampla possível, quando, na prática, ele se dá da forma mais restrita.

Nossos representantes, eleitos pela maioria, mas motivados em prol de uma minoria, agora, mercantilizam nosso direito de representação e como não posso gritar por democracia, pois de fato a teríamos, grito por diálogo!

Saiba mais sobre o Ocupa: aqui

Sobre o Presidente da CPI: O Dia

domingo, 4 de agosto de 2013

Mudos ou envergonhados?

Navio negreiro, Rugendas

Anteriormente reclamei do pouco enfoque às últimas notícias sobre a boutique flagrada ao utilizar trabalhadores em condição análoga a de escravo, não só pela mídia, mas pela maioria das pessoas do meu convívio social. Chocante ver que, realmente, as notícias sobre a boutique quebrada no Leblon, a que foi quebrada por ter cometido a mesma conduta que descrevi no início do parágrafo foi muito mais repetida na minha timeline e na mídia do que esse escândalo. Fora algumas poucas pessoas que considero verdadeiros portos de lucidez, ninguém divulgou a vergonha do nosso consumismo.

Nos comovemos com as lágrimas do empresário, mas não ficamos tão comovidos e tampouco revoltados com as pessoas pobres que foram submetidas a um tratamento degradante. Pessoas humildes atreladas à uma quantidade extenuante de trabalho por dívidas não nos choca e isso não aconteceu no meio do mato, nos longínquos sertões do Brasil. Foi dentro de uma das nossas jóias do capitalismo, nossas megalópoles ensandecidas. Em nossos mercados da agonia, mercantilizamos dessa vez a dignidade humana e o direito fundamental ao trabalho, o direito básico de se manter por seus próprios esforços. Aquilo que deveria ser mais prezado pelos capitalistas é rapidamente esquecido quando se torna instrumento da opressão.

Realmente, os "vândalos" do Black Block, de alguns perfis Anonymous e outras páginas a favor das manifestações têm toda razão ao organizar o evento virtual para a missa de 7º  dia em homenagem aos Manequins da Boutique. É um cinismo de revirar as tripas.

Não bastasse a cobertura discreta da grande mídia, dessa vez, não vi gifs. com mensagens gritantes ou os conservadores pedindo para que alguém fosse preso o resto da vida por isso. Não vi o chamado por CADEIA. Não houve caça às bruxas, ninguém pediu medidas mais pesadas, ninguém quis fazer a menor questão de saber se os responsáveis seriam punidos. Não houve o sentimento vingativo de ver aquelas pessoas presas e endividadas. Agredir a dignidade do proletário aqui é tão comum que as pessoas não se chocam, não se importam, esquecem e depois voltam a comprar nos mesmos lugares.

 - Pelo menos não estão passando fome...

O blog do Sakamoto descreveu com precisão as condições degradantes a que as pessoas foram submetidas. E o mais impressionante é que isso já foi noticiado antes e como das outras vezes não demos tanta importância.* 

Estamos nos tornando o espelho mais feio da política imperialista. Agora, além de vender bombas de efeito moral e de gás pro mundo inteiro, submetemos pessoas esfomeadas de países vizinhos a um regime de trabalho escravizante. A meritocracia para esses não serve, ela é para os letrados, aqueles que manufaturam os objetos de desejo em nossas vitrines não podem fazer parte dela.

Continuarmos nesse caminho teremos bolivianos entregando pizzas, equatorianos lavando o chão e guatemaltecos fritando bolinhos. Todos ilegais. Criaremos uma nova denominação para esses, em vez de "paraíbas" teremos os "ticanos". Os ufanistas vão ficar orgulhosos. Finalmente verão o Gigante dominar o mundo e se os serviçais vierem dos "comunistas" da América do Sul melhor. 

A escravização do consumismo rompeu as barreiras dos crediários para levar seu grilhão às pessoas humildes, literalmente. 

 - Tudo bem. Eles admitiram o seu erro, assinaram um termo de ajustamento de conduta e eles estão limpos. Podemos voltar a comprar deles. Prisão perpétua pros corruptos! Pena de morte pra vagabundo!

Ao contrário do que acontece com as condutas antissociais normalmente praticadas por pessoa de baixa renda, não há estigma. Não se criou o rótulo para os escravagistas, não se fala dessa gente como se fala da "vagabundagem". O sistema simplesmente torna aquilo um caso isolado, a ganância extrema em vender o objeto por 150 vezes o valor que dá para o artesão não é vista como um problema tão sério, mas é essa mesma ganância que paga os corruptos, que forma os cartéis e que atrasa o País. E os inocentes úteis, empurrados pela Mídia vampira, vão continuar a olhar apenas para os corruptos. Escolhem seus alvos de acordo com esterótipos criados por quem controla a sua mira.

Para os poucos que ousam refletir sobre isso, esse absurdo é constrangedor. Por isso não há revolta, indignação ou tanto ativismo virtual. Preferimos esquecer, ficamos mudos de vergonha.


http://reporterbrasil.org.br/2011/08/roupas-da-zara-sao-fabricadas-com-mao-de-obra-escrava/

Veja o problema ilustrado
Foto: Pragmatismo Político
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Dados alarmantes em um ótimo texto do Grupo História e Política no Facebook: http://www.facebook.com/#!/groups/443691389048031/