terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Pedrinhas no sapato dos sanguinários

Imagem retirada do Blog Outras Palavras
( http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/barbarie-nas-prisoes-a-culpa-da-sociedade-e-a-da-midia/)

Há alguns dias Leonardo Sakamoto se utilizou de um vídeo aterrador para criticar a triste situação de nosso sistema prisional. O vídeo é de causar pesadelos: se trata de uma gravação por celular feita de dentro do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, em que são mostrados corpos de detentos degolados após visíveis sinais de tortura e violência. 

As cabeças são expostas sobre os corpos como troféus e embora eu não aprove qualquer tipo de exploração do sofrimento humano, acho que Sakamoto acertou ao divulgá-lo, apenas me reservo ao direito de não postá-lo dentre as minha fontes, pois não desejo que ninguém o veja. Prefiro dados.

Realmente, o brasileiro precisa não só estar ciente, mas também se chocar com o que acontece na penumbra de nossa sociedade, cada vez mais violenta e individualista e não só por imagens agressivas,mas também através do conhecimento de dados constantemente omitidos pela mídia sistêmica.

Logicamente, não faltaram as manifestações quase orgásmicas dos sanguinários de plantão, que, não sei como, sentem um imenso prazer ao ver os "vagabundos" sofrerem. Se sentem protegidos e vingados ao ver a miséria humana nos presídios, afinal, lá não há inocentes.

Os números mencionados pela mídia independente cibernética relatam um quadro de horror, absoluto horror. O simples dado mencionado no artigo da foto que ilustra essa postagem, de que chegamos ao patamar de meio milhão de presos, já reflete os equívocos desse pensamento e escancaram todo o medo dos "homens de bem".

Lucia Nader e Marcos Fuchs, no texto, "Somos todos Cumplices" fazem um perfeito paralelo entre as nossas fortalezas da punibilidade seletiva e as masmorras medievais, e, logicamente, assim como na idade média, os resultados são os mesmos: a longa mão do Estado é altamente classista e, pior, simplesmente aprendemos a acreditar que aquilo é um mal necessário e que um país como o nosso não pode se dar ao luxo de contar com convênio de reinserção social e prisões que, de fato, recuperem o indivíduo

Pois bem, segundo o texto acima, enquanto passivamente aceitamos o massacre de gerações seguidas de pobres, os resultados foram pífios, já que a nossa população carcerária cresceu 380% em 20 anos.  Será mesmo, a atitude belicosa da nossa elite letrada a única solução para a violência? A resposta seria sim, se você não quiser acabar com ela.

A política da tortura humana não tem ajudado na luta contra a violência e ao percebermos que, em 2014, chegamos ao patamar de 500.000 pessoas presas, cai por terra também a balela da impunidade. Com certeza ela existe, mas não chegou para os mortos de Pedrinhas e tampouco para os indivíduos que  ocasionaram as mortes que, sabidamente, fossem outras circunstâncias teriam sido os executados, no lugar de carrascos.

Conforme texto da Folha Social, a ação policial mata cinco pessoas por dia. Isso apenas a ação policial. Se formos somar a este número os atos violentos praticados pela própria classe marginalizada, dentro e fora dos presídios, esse número atinge proporções estarrecedoras.

Assim, é diante desses fatos que vejo como são vazias as afirmativas de endurecimento do nosso sistema penal. Sistema Penal nenhum, mesmo que contenha a pena capital, será capaz de matar e torturar com tanta  eficiência e crueldade e o pior disso tudo é que, em relação a esta pena capital (social), a maioridade penal já foi há muito reduzida, na verdade ela sequer considera uma idade mínima para se abater sobre o apenado. Caro leitor, sempre que você escutar frases como: "precisamos de pena de morte", "vagabundo bom é vagabundo morto", "direitos humanos para humanos direitos" e etc., responda com toda a convicção que já temos pena de morte, melhor ainda, para os sanguinários, temos pena de morte aplicada de forma sumária, com requintes de crueldade, tortura e violência sexual e, exatamente por isso, não precisamos endurecer coisa alguma.

Para satisfazer os sanguinários basta mostrar o quanto matamos, torturamos, estupramos e fazemos adoecer os "vagabundos".


Fontes:

Outras Palavras: http://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/barbarie-nas-prisoes-a-culpa-da-sociedade-e-a-da-midia 

"Somos todos cúmplices": http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/07/politica/1389133838_494984.html

Folha Social: http://www.folhasocial.com/2014/01/sete-fatos-chocantes-sobre-policia-no.html

Revista Forum: http://revistaforum.com.br/blog/2014/01/para-anistia-internacional-situacao-dos-presidios-no-maranhao-e-inaceitavel/

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Você sabe quanto custa o seu churrasco?

Imagem tirada da fonte
Queria começar 2014 com uma novidade estimulante, no entanto, o que me veio à cabeça para comemorar nosso novo ano foi um velho problema: a submissão da classe trabalhadora à condição análoga a de escravo.

Obviamente, o problema não é novo, eu mesmo, neste espaço, cheguei a abordá-lo por mais de uma vez, no entanto, minhas andanças cibernéticas não me deixaram outra opção, senão destacar o agravamento deste problema.

Segundo o Repórter Brasil, as carvoarias representam 1/5 dos casos de submissão do trabalhador à condição análoga a de escravo, o que me remete a um problema que extrapola a fiscalização ou a punição dos envolvidos: a mudança dos valores da nossa sociedade.

Você, caro leitor, trabalhador, pagador de impostos, já parou para pensar o quanto o seu churrasquinho de fim de semana pode custar a um carvoeiro e à sua família?

Por mais que tenhamos a absoluta certeza de que cabe ao Poder Público o efetivo combate a estas práticas, a sociedade civil, ao rever seus conceitos de consumo, pode sim, ter um papel fundamental para a melhora desse quadro.

Todos anseiam por um País desenvolvido, mas isso não virá apenas através de políticas públicas. A falência sistemática do mundo neoliberal comprova que a revisão de valores será o principal fator de mudança da humanidade e isso, invariavelmente, inclui a verificação atenta da origem dos produtos que consumimos.

As caríssimas grifes que se utilizavam de trabalhadores em condição análoga a de escravo para produzir as roupas que vendem a peso de ouro já foram esquecidas. Qualquer transeunte de shopping pode notar isso, continuam lá, firmes e fortes, enchendo os sonhos das madames e cocotas, que em momento algum, param para pensar o quanto a sua vaidade custa para outros.

Assim, meu desejo para 2014 é uma elite que continue alimentando o mercado com seus altos gastos, que continue produzindo lixo inútil, através de um consumismo desenfreado que dita que temos que ter sempre os eletroeletrônicos de última geração, que continue achando um absurdo o que paga para suas domésticas, enquanto gastam o dobro do que elas ganham numa conta de restaurante ou numa bolsa. Que nossa elite letrada continue assim, mas que, ao menos, se importe um pouco mais com a origem do que compra já que, no nosso amplo, livre e promissor mercado, o que não faltam são opções socialmente conscientes.

Pense nisso, caro leitor, antes de criticar o país em que vive, afinal, ele é fruto dos nossos valores e prioridades. Pense nisso na próxima vez em que for abordado por um marginal em um sinal, pense que ao se preparar para o churrasquinho do fim de semana você é responsável pelo que vai consumir, seja pela carne comercializada por conglomerados que esganam o pequeno produtor e atuam de forma decisiva para o desmatamento, seja pela salada lotada de agrotóxicos ou pelo carvão que vai assar a sua carne, afinal, o seu churrasco, no lugar de produzir mais fome, exclusão e desmatamento pode gerar mais empregos, avanços sociais e uma cultura sustentável.


Fonte: http://reporterbrasil.org.br/2014/01/carvoarias-representam-um-quinto-das-inclusoes-na-lista-suja-do-trabalho-escravo/